sábado, 31 de outubro de 2020

Esse texto foi escrito por alguém sem história

Depois de tudo, é como se eu tivesse me assistido da janela de um ônibus vazio, durante anos, me assistindo "vivendo", fazendo planos, me alimentando, impondo regras, me amarrando ao pé da cama porque toda noite aqui, é noite de lua cheia, pelo menos toda noite eu sinto que algo quer sair de mim...mas na boa...no fundo eu sei que não há mais nada aqui. Na verdade, nunca houve. Eu arrumei o jeito mais simples de viver com um vazio do tamanho do mundo, e ninguém sabe o que me custou, o que eu posso dizer é que só existe conforto na mentira, e que eu faria mil vezes mais pra passar mais mil dias sem me questionar. Porque não existe sentimento pior do que esse de saber que não há nada depois dessa porta estreita, e principalmente ter que admitir que eu não tenho fé em nada. Eu acreditei que eu tinha ao menos um grão de mostarda, mas eu não tenho nada, e esse texto, e a minha voz, e os meus pensamentos, e a minha alma são incompreensíveis, são incompatíveis, são de um tipo raro, e nem por isso são especiais, muito pelo contrário. Eu olho para trás, eu não vejo nada, tudo está embaçado, eu não sei se era eu, se sou eu, quem está escrevendo isso agora, mas se você ler isso, talvez consiga enxergar que quem escreveu todos os textos aqui, é a mesma pessoa. Mas para mim, não é.