domingo, 15 de maio de 2011

Diálogo e descrença

- Você não é muito de falar né?

- Até sou, mas acho que seria inevitável que eu falasse algumas coisas imbecis, como a maioria dos outros homens eu me comporto como um imbecil na frente de uma mulher bonita.

- Mas a maioria dos outros homens nunca diz isso.

- É porque estão ocupados tentando ser foda pra você.

- Você não está? Porque estou impressionada!

- Eu também de certa forma... Apesar de você já ter feito “isso” algumas vezes, você parece tão confiante em dizer que um estranho novo é melhor do que qualquer estranho que você já tenha conhecido.

- Você acha que estou errada? Você é um estranho igual a qualquer outro?

- Você pode apostar todo seu dinheiro nisso! O que acontece é que eu sei o que você está procurando, é algo especial, que te da coragem de sair de casa e procurar, embora nunca tenha visto, e só ouvido suas amigas falarem, e então você pensou que isso fez delas pessoas melhores, e por fim, você quer ser alguém melhor. Mas não sou nada especial, e você só vai se decepcionar um tanto mais.

- ... Deus do Céu! Você é a pessoa mais honesta e maravilhosa que já conheci em toda minha vida! Eu preciso de você, minha vida acabou de fazer sentido a partir desse momento! Não sei mais existir sem você.

- Acho que nunca fui honesto em toda minha vida, não diga besteiras! Quer saber... já cansei de tudo isso, até mesmo loucura e carência tem limites, e outra, minha cerveja acabou! Eu tinha esperanças de uma transa legal, numa noite lamentável como essa seria algo pra compensar o tempo que gastei nesse lugar, cheio de gente domesticada e doses de Whiskey três vezes mais caras que um bar normal.

- Certo... Eu entendi tudo... só quero que saiba que pra sempre você será especial para mim, e pra sempre te amarei!

- E eu só quero que saiba que vou te odiar pra sempre por ter pago R$ 8,00 numa Long Neck.

Quando ela chegou em casa limpou o rosto, e dormiu, profundamente, como a certeza de que sempre sentiria isso, e sempre sentiria vontade de sentir, de novo, e de novo... quantas vezes fossem necessárias.

Ele acordou num bar, vazio, com a TV ligada passando um programa rural, se sentiu nauseado, inútil, uma peça velha que não funciona numa engrenagem que trabalha sem cessar, e então foi embora pra casa.

E no final talvez os valores se invertam... e quem decide nunca foi exatamente livre pra tomar escolhas imparciais, talvez só obedeça suas próprias razões... E quem pode se rebelar contra as ordens da própria razão? Eu não... sei...

Um comentário:

Rodrigo disse...

diálogos legais.

só pra falar que fiz um comentário, escutei uma frase outro dia de alguém que não me lembro quem dita por alguém que não sei quem foi:

a razão é o sentimento que se tornou consciente.

acho legal esta frase.


bem, foda-se.

até.